quarta-feira, 24 de novembro de 2010

POR UMA GESTÃO CULTURAL DE SÉCULO 21 EM VINHEDO


É preciso fazer algo e urgente para tirar a cultura de Vinhedo da idade média em que se encontra. O atraso cultural do município é estarrecedor. Apesar de ter um percentual dos mais altos do mundo (3%) para o setor, essa riqueza não se reflete, a exemplo de outros setores, na vida cultural da cidade. Criada a partir de um ajuntamento de viajantes e tropeiros no Caminho de Goiases, entre Campinas e Jundiaí, no trecho conhecido como Estrada da Boiada, contou inicialmente com a presença de imigrantes portugueses em busca de ouro, mamelucos e negros em busca de quilombos.
Assim era composta a maioria dos moradores do povoado de Cachoeira, mais tarde vila e distrito da Rocinha, e finalmente município de Vinhedo, já com a presença de novos imigrantes portugueses, africanos, italianos, alemães, suíços, libaneses, espanhóis, e migrantes de várias regiões do país como Paraná, Santa Catarina e Rio grande do Sul.
Essa rica origem cultural ainda não foi capaz de elevar Vinhedo ao patamar que merece, colocando-a no seu devido lugar aqui e agora em pleno século 21 e Terceiro Milênio. Apesar de sua propalada pujança em outras áreas, como educação, saúde, moradia, a cultura do município vive a duras penas, em estado de total mendicância. Seus artistas e produtores culturais são obrigados a evadirem-se para garantir um mínimo de sobrevivência. Os que permanecem experimentam o sabor amargo da falta de perspectivas de viver com dignidade. Tudo isso precisa mudar e já.
Na realidade essa situação não foi criada na atual gestão, nem nas anteriores. A causa está no modelo que foi aplicado em sucessivas administrações, sem utilizar metodologias e planejamento estratégico adequados à construção de políticas públicas e específicas para o setor.
Entre as mais importantes estão o Conselho de Cultura (existe um arremedo de Conselho criado açodadamente e sem a participação dos trabalhadores em arte e cultura do município), o Fundo Municipal de Fomento à Cultura, a Lei Municipal de Incentivo Fiscal, o Plano Municipal do Livro e da Leitura e a Conferência Municipal de Cultura.
Além disso não existe um diálogo constante entre as gestões estadual e federal da cultura no sentido de favorecer aos artistas locais o máximo de oportunidades de trabalho, capacitação e financiamento para as suas criações. A cidade fechou-se em seu umbigo e não se oxigena no contato com o seu entorno, e muito menos com suas origens mais distantes. Ora, sem oxigênio qualquer organismo apodrece, e é essa falta de respiração que está levando a cultura de Vinhedo ao aniquilamento.
Mas também a educação carece de metodologia e planejamento. Não existe Conselho Municipal de Educação, e o setor também não se articula fora de suas quatro paredes. Fornecer fardamento, material escolar e merenda não garante a transformação das nossas escolas, ainda bastante atrasadas, tanto públicas como privadas, sem qualquer perspectiva de encantar, atrair e reter crianças e jovens sem a utilização de métodos de vigiar e punir, em centro culturais propícios à convivência, à troca e à livre expressão da vida humana.
A população de Vinhedo encontra-se, em sua grande maioria, privada dos serviços culturais básicos, tão essenciais quanto os de educação, saúde e segurança. Isso impede que os seus agentes culturais e artísticos façam suas criações circularem pelo estado, pelo país e por outros países, inibe o surgimento de novos talentos, a capacitação e valorização dos existentes, promove o estrangulamento do mercado e das possibilidades de diálogo da nossa rica diversidade cultural.
E afeta de sobremaneira a criação de políticas para o fortalecimento da infraestrutura de cultura em nosso município. Temos poucas bibliotecas, com acervo defasado, sem museus, e os centros culturais existentes e em construção não foram planejados para atender a realidade dos artistas e trabalhadores em arte e cultura.
A cultura de Vinhedo também padece do maior vício da relação entre governos e agentes culturais que é o clientelismo, a política de balcão, a lógica de projetos e abordagem setorial (que além de privilegiar o corporativismo e o já falado clientelismo, reforça a abordagem meramente econômica, além de fechar as portas para as novas linguagens e possibilidades artísticas que não se encaixam em nenhum setor organizado).
Precisamos repensar o modelo de financiamento público, abarcando as várias nuances e necessidades culturais da região contemplando o protagonismo das nossas diversas matrizes culturais, do índio, negro e novos imigrantes, reconhecer, valorizar e aprimorar as políticas para a memória como fator fundamental para o desenvolvimento do município.
É importante também introduzir os cidadãos ao mundo da Internet, oferecendo oportunidades além dos estímulos das grandes corporações de mídia e entretenimento para garantir a todos o acesso à cultura e a livre expressão porque é condição básica para o desenvolvimento humano e econômico.
E o exercício da cultura e da artes se dá nos centros culturais, escolas, bibliotecas, lan houses, espaços de convivência, terreiros, igrejas, praças públicas, parques, museus, estações de transbordo, aeroportos, etc. Mas não cabe ao poder público produzir cultura. O seu papel é o de cumprir o dever constitucional de fomentar a produção da cultura e da arte pelos próprios artistas e produtores culturais porque isso é prioritário para o projeto de futuro da cidade, do estado e do país. E viabilizar a todos o mais antigo direito cultural garantido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, que é o direito autoral, imprescindível à subsistência dos artistas e empresas culturais.
                                         Geraldo Maia - Poeta e membro do MAV

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